Se as pedras dissessem a verdade, existiriam muito mais pedras no fundo do mar.
Na intrincada rede das mentiras aparecem alguns a reclamar a verdade, sabendo-se que nada é absolutamente verdadeiro e que o que agrada a uns nunca será da boa aceitação de tantos outros. Porque a verdade – e essa parece ser a única verdade – é uma oscilação dentro de um sistema de valores. É aquilo que faz de um assassino um herói, dependendo de quem lhe põe a arma e a missão nas mãos.
O que vemos na sociedade ocidental – onde a nossa se inclui – é a plataforma de piso irregular e descendente, em rampa conducente ao fim do abismo, das crenças, do conhecimento e da verdade. As crenças registam elementos em que acreditamos – ou desacreditamos – fornecendo-nos algum conforto e permitindo-nos a dúvida terrível: que é o portador da verdade?
Num sistema de crenças nós somos um sistema de crença. E aquilo em que acreditamos faz de nós o indivíduo – muitas vezes desprezando os outros e esquecendo que é do outro que dependemos, sempre.
Na zona do conhecimento, não há padrão. O que nos chega é realidade, mas também ficção e imaginário e se os aceitamos simplesmente, sem interrogações, passam a constituir a nossa verdade.
Estanho é que, de modo geral, a nossa verdade nunca é coincidente com a verdade do nosso vizinho.
Chega-se então e finalmente à derradeira etapa: a verdade tal qual a procuramos. Que coisa é? Que significa? Quem a estabelece? Que padrão referencial utiliza?
Para Nietzsche, por exemplo, a verdade é um ponto de vista. E para Descartes não existe sem a certeza – sendo a certeza o critério fundamental para lá chegar.
Hoje, limitamos a ideia de verdade há verdade material – que se estabelece entre o que é e o que é dito. É uma verdade perigosa, já que sabemos que aquilo que é dito normalmente é apenas uma das facetas onde a verdade se esconde. Por isso há tanta diferença entre a opinião publicada e a opinião pública – e aquilo que é realmente verdadeiro.
No domínio do pensamento, distinguimos ainda a verdade formal, que equivale à validade (depois de conhecer todos os detalhes que compõem o que queremos determinar como verdadeiro.
Há ainda o Sofisma, isto é o tipo de discurso que se baseia num antecedente falso tentando chegar a uma conclusão lógica válida. E depois há aquilo em que andamos mergulhados: uma tentativa desesperada de construir verdade, ao serviço daqueles que, por falsidade, nos desejam como crentes.
Alexandre Honrado
Historiador